sexta-feira, 1 de julho de 2011

Preso político

Quando ainda existia o presídio do Carandiru, em São Paulo, todo dia eu passava em frente (de metrô, indo trabalhar) e sempre tive muita vontade de conhecê-lo por dentro. Só uma visita rápida. Nunca para ficar! Até por que, se eu quisesse uma estadia mais longa, bastaria uma atitude para matar minha vontade, depois de fazer o mesmo com alguém.

Mas isso nunca aconteceu. Ele foi demolido e minha vontade também desmoronou. Acredito que pelo fato de eu nunca ter tido algum amigo advogado, que talvez pudesse facilitar as coisas para eu poder entrar, enquanto muitos lá dentro sonhavam em ter a mesma amizade, mas com a intenção de sair! Não sei bem o motivo da curiosidade, mas passou.

Voltando ao presente, dias atrás estive na Assembleia Legislativa de SP para encontrar um conhecido que vive por lá, fazendo campanha para alguns parlamentares. E mesmo o meu assunto não estando diretamente ligado ao meio político, como já estava lá, ele me levou para conhecer o lugar. E foi aí que voltei a lembrar do Carandiru. Por vários motivos:

Primeiro por que, por várias vezes, já havia passado em frente ao local. Mas, diferente do xilindró, nunca senti a mínima vontade de entrar, mesmo sabendo que seria até mais fácil que a cadeia, pois muitos se referem ao lugar como “A casa do povo!” ainda que mais pareça “A casa da mãe Joana!” pela fama e frequentadores que por lá circulam todo dia.

Um lugar que, já na entrada, somos recebidos por um policial que orienta e apresenta os pavilhões. Três, exatamente, formando o complexo e hospedando as quadrilhas. Quer dizer, os políticos! Organizados em partidos, confortavelmente alojados em suas celas. Desculpe! Quis dizer gabinetes! Mas é que as lembranças do outro local me dão interferência.

É de lá que saem os maiores planos para enganar o povo em troca de votos, incluindo ligações telefônicas falsamente programadas para parecer que lhe conhecem e que podemos confiar. Falando em falsidade, devo ter dado a mão para umas vinte pessoas, com aqueles sorrisinhos, portando sempre dois celulares de ponta e cercado de assessores.

Me senti como num ninho de ratos, circulando por um novo pavilhão, que muito se parecia com o velho cárcere, não fosse pelo estacionamento coberto no térreo, ocupado só por carrões! Nas salas, homens cortando unhas; ninfetas bem vestidas para dar o melhor aos “poderosos” e informativos nas portas, que ninguém lê! Todos trabalham muito, viu!

Só se fazem hora extra na lanchonete! Reduto de intenso falatório, perto do plenário onde transmitem, ao vivo, a ótima TV Senado. Salão com imenso vidro, separando meia dúzia de imortais, do resto da plebe que está lá, como num colégio eleitoral, qual interessa mais estarem com orelhas de burro, num canto da sala, que na primeira fila atento a aula.

Vai lá um dia! Eu nunca tive vontade. Só fui para conversar com um fulano que se acha o máximo por conhecer gente lá e diz que é um vício trabalhar com eles. Mas não pretendo voltar e nem labutar com a corja. Lembra que falei que meu ponto fraco é o estômago? Então. Lá, pelo jeito, ia ter que forçá-lo muito e fatalmente acabaria preso! Ao sistema.